NÃO IMITEIS OS MORCEGOS



O leão não teme mostrar-se e não deseja imitar o procedimento do morcego que só aparece na escuridão. Nunca em Israel o morcego foi símbolo heráldico e para que não sejais morcegos no vosso proceder, vou contar-vos porque só vive nas trevas.
Houve uma vez uma guerra entre os animais. De um lado batiam-se os mamíferos, tendo por aliados todas as restantes bestas que andam, correm e rastejam sobre a terra; do lado oposto defendiam-se as aves aliadas a todos os seres voadores.
Os dois exércitos batiam-se corajosamente em contínuas escaramuças.
Havia porém um animal que, amando muito a tranqüilidade e o bem estar, não queria tomar parte na luta: era o morcego.
Apesar de cuidadosamente evitar os locais de combate, acontecia por vezes ser apanhado por uma patrulha dos exércitos terrestres e tomado por espião.
Então lacrimoso dizia que era do partido terrestre, que era aparentado com os ratos, e se voava, o fazia com o seu manto de pele, o qual nunca poderia ser considerado como asas.
Os da terra, apesar de desconfiados, deixavam-no ir em liberdade.
Mal se via livre destes, era apanhado por alguma patrulha dos voadores, que se preparavam imediatamente para o matarem a bicada ou ferroada; mas o morcego lamuriava que não fizessem tal, que ele era do partido dos voadores, que era um pássaro. Não tinha culpa de ter asas pouco bonitas; não se fizera a si próprio. Os combatentes aéreos, embora meneando a cabeça em ar de dúvida, deixavam-no em paz. E assim o bichinho ia gozando a sua vida, não isenta de sustos.
Ora como tudo tem fim, também findou a guerra, e os combatentes de um e outro partido resolveram dar um colossal banquete de confraternização para festejarem a assinatura do tratado de paz.
Decorreu cheio de animação o banquete, durante o qual cada um recordava episódios da campanha. Alguns dos aliados terrestres falavam de um animal suspeito que fizeram prisioneiro, os voadores pediram os sinais desse bicho, e depois de trocarem várias explicações, chegaram à conclusão de que o tal animalejo procurava enganá-los a ambos os partidos. Resolveram pois os antigos inimigos e agora amigos, em plena concordância de votos, que todas as vezes que qualquer deles se encontrasse com o tal bicho dar-lhe uma boa sova.
Como esta sentença fosse proclamado em alto e bom som o morcego, que estava escondido num buraco de umas ruínas próximas, ouviu-a apavorado.
Desde esse tempo, e por esse motivo, o morcego só sai da toca quando as trevas da noite o protegem.
Ouvi, pois e por tudo, o meu conselho: não desejais ser morcegos.

Da Obra de Barros Basto
Ben-Rosh - Ha-Lapid número 14 de setembro / outubro de 1928


E Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal, segui-o... 1Reis 18.21

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